Rangeliose em cão doméstico (Canis lúpus familiaris ): uma doença emergente

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E. C. Silva
L. N. Torres
S. V. M. Corrêa
A. M. D. Lacerda
R. G. Gomes
D. M. Rodrigues
J. M. Guerra
J. F. Soares
M. B. Labruna
L. R. M. Sá
B. Cogliati

Resumo

Introdução: a rangeliose é uma moléstia infecciosa causada por um piroplasma (Rangelia vitalii), transmitido pelo carrapato Amblyomma aureolatum, que acomete cães em áreas de Mata Atlântica e Campos Sulinos. A doença foi descrita em 1908, como Nambyuvú, termo tupiguarani que significa “orelhas que sangram”, um sinal clínico clássico em animais infectados agudamente. Apesar de antiga, permaneceu esquecida durante boa parte do século 20, sendo considerada sinônimo de babesiose, mesmo apresentando formas extra-eritrocitárias. Em 2011, alguns genes do parasito foram sequenciados, revalidando-se a espécie R.vitalii, no entanto a doença continua subdiagnosticada. O presente trabalho descreve um caso de rangeliose em um cão destacando a importância do diagnóstico clínico, laboratorial e anatomopatológico.

Relato de Caso: um canino, fêmea, SRD de sete anos de idade foi conduzido ao HOVET/FMVZ-USP com prostação, anorexia, êmese, melena e colúria há uma semana. Vivia em uma chácara em Mairiporã (SP) e apresentava contato com ratos e histórico de ixodidiose. Ao exame físico, constatou-se apatia, mucosas ictéricas, petéquias, desidratação e esplenomegalia, confirmada em exame de imagem. Os exames laboratoriais indicaram anemia, trombocitopenia, monocitose, azotemia, hiperbilirrubinemia e hipoproteinemia. Apesar do tratamento de suporte, o animal foi a óbito em 36 horas e foi realizada necropsia completa. Macroscopicamente foi observado esplenomegalia, icterícia, petéquias e hemorragia intestinal. Microscopicamente, foram observados no endotélio vascular e no interior de macrófagos do pulmão, coração, baço, fígado e rins a presença de merozoítos e merontes sugestivos de R.vitalii, por vezes associados a uma resposta inflamatória mononuclear. Os exames imunohistoquímicos foram negativos para Toxoplasma gondii e Neospora caninum. Os exames moleculares de reação em cadeia da polimerase (PCR) foram positivos para R. vitalii e negativos para Ehrlichia canis e Babesia spp.

Discussão: a R.vitalii provoca intensa vasculite, recrutando grande número de plaquetas, que ainda sofrem sequestro em baço e fígado. Assim, a trombocitopenia é o achado laboratorial mais relacionado à doença, podendo ou não ser acompanhada de anemia por hemólise e hemorragia. O diagnóstico, in vivo, na ausência de técnicas moleculares, deve ser firmado pela associação da trombocitopenia com a epidemiologia distinta desta hemoparasitose, juntamente com os sinais clínicos de diarreia sanguinolenta e, ocasionalmente, icterícia.

Conclusão: o diagnóstico de rangeliose no cão se baseou em trombocitopenia, diarreia e icterícia associados à identificação de merozoítos e merontes de R. vitalli nos diferentes órgãos, o que enfatiza a importância da associação clínica, laboratorial e anatomopatológica.

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Como Citar
SilvaE. C.; TorresL. N.; CorrêaS. V. M.; LacerdaA. M. D.; GomesR. G.; RodriguesD. M.; GuerraJ. M.; SoaresJ. F.; LabrunaM. B.; SáL. R. M.; CogliatiB. Rangeliose em cão doméstico (Canis lúpus familiaris ): uma doença emergente. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 13, n. 1, p. 52-52, 28 abr. 2015.
Seção
SEMANA CIENTÍFICA PROF. DR. BENJAMIN EURICO MALUCELLI